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A diversidade da culinária amazonense

Maria Luíza Lopes

Pensar na culinária amazônica logo nos faz lembrar da herança indígena. Com pouca influência da colonização portuguesa e africana, a culinária local é considerada uma das mais exóticas em todo o território brasileiro, devido a sua vasta pluralidade de peixes como o acari, tambaqui, pirarucu, entre outros, e também pela sua diversidade de frutos, alguns dos quais, são totalmente desconhecidos em outras regiões do Brasil, como o Abiu e o Bacuri.

Um prato bastante famoso na região Norte possui o nome de origem tupi: pira = peixe, cuí= farinha. O piracuí é produzido na região amazônica por famílias de ribeirinhos, com produção comum mais precisamente nos estados do Amazonas e Pará. Umas das comunidades mais famosas na produção é a Vila Curuai Lago, localizada em Santarém no estado do Pará.

 

Elineia Vieira, moradora de Manaus, visitou essa região recentemente e acompanhou o processo de produção do piracuí. Ela não conhecia a cultura local e achou interessante o trabalho realizado pelos ribeirinhos. “Eu tinha perguntado essa moça de rosa [foto] como era feito o procedimento. Ela me explicou que cozinha o peixe primeiramente e, após esfriar, ela retira a espinha do peixe, desfia a carne e depois coloca em um forno e mexe até ficar com aspecto de farinha”, contou.

 

         

          Mulher inicia o preparo do piracuí. Foto: Acervo Pessoal (Elineia Vieira)

 

 

Os peixes utilizados no preparo do piracuí são variados, sendo que os mais comuns são o tamuatá e o acari. O uso do acari se destaca por ser um peixe de fácil captura e pela sua abundância na parte mais baixa dos rios na região. Sua carne possui uma consistência mais fofa e com fibra média. É considerado um clássico para os nativos.

           

               Primeiro, o peixe é assado e, após esfriar, a espinha é retirada.

               Foto: Acervo Pessoal (Elineia Vieira)

Sobre a valorização desse alimento na região, Rosiele Rodrigues, chefe de cozinha em Manaus, afirma que é muito importante prestigiar essa prática devido ao considerável número de ribeirinhos que transformaram essa atividade como única fonte de renda. “O piracuí é um alimento que é duradouro e isso ajuda muito na conservação, pois a falta de eletricidade nos interiores do Amazonas é muito grande. Então, os ribeirinhos usam o piracuí como forma de alimento e de renda. No entanto, infelizmente não há nenhum tipo de incentivo em relação à produção do piracuí”, afirmou Rosiele.

 

A forma de consumir o piracuí também é variada, pois existem vários pratos a serem feitos a partir do alimento: bolinho de piracuí, tortas, ensopados ou, até mesmo, com frutas. A banana é a combinação mais utilizada. “Muitas vezes, consumimos o piracuí puro, acompanhado com a farinha, outras vezes as pessoas comem com frutas. O piracuí também pode virar um dos ingredientes da farofa, que dá um gosto diferenciado e bom”, disse Rosiele.

 

O alimento, apesar de ser produzido em cidades no interior do Amazonas, tem um sucesso imenso na capital, conforme observa a chefe de cozinha. “Não é todo mundo que conhece o piracuí ou algum tipo de prato que venha dele, mas as pessoas que conhecem, na maioria das vezes, pedem a farinha com banana que é um prato delicioso. Todos que provaram, aprovaram”, finalizou Rosiele.

O piracuí é um dos principais pratos da região Norte do Brasil e faz sucesso em Manaus

Miriele Alves

Você sabe o que é o Tucumã? O tucumã é uma fruta típica da região norte do país muito apreciada pelo sabor específico que lembra o damasco. Sua árvore, o tucumanzeiro, pertence à família das palmeiras e são encontradas naturalmente nos estados do Amazonas, Pará, Acre, Rondônia e Mato Grosso. Ela pode atingir até 20 metros de altura, suas folhas são longas, semelhantes as do coqueiro, chegando a 5 metros de comprimento. Em sua parte aérea encontram-se espinhos negros compridos e finos. Produz um fruto, tipo drupa1, oval de casca alaranjada com polpa comestível, amarelada e oleosa, sendo extremamente rico em vitamina A.

 

O café da manhã mais pedido na região é produzido com o fruto. O X - Caboquinho é importante para o caboclo na região por seu alto poder energético. Os moradores, principalmente os que trabalham mais pesado, preferem o sanduiche aos demais, por permitir que trabalhem com mais disposição. Mas há aqueles que preferem o prato por simplesmente apreciarem o sabor.

 

Tallita Almeida, (23) é natural de Manaus, mas cresceu com a família na cidade de Iranduba na região metropolitana. Hoje ela vive em Campinas no estado de São Paulo com o marido. Tallita contou um pouco das lembranças sobre o X-caboquinho, “eu lembro que minha mãe sempre preparava para mim, ela dizia que eu tinha que comer tudo para conseguir aprender o que os professores ensinavam. Era um costume ter x-caboquinho logo cedo no café, o dia que não tinha era como se tivesse faltado parte do ritual” lembrou sorrindo.

 

Ela conta ainda que sempre que viaja para visitar os pais, faz questão de comer, “eu sinto muita falta de comer o sanduiche e aqui em Campinas é difícil encontrar o tucumã. Quando vou visitar meus pais, que hoje vivem em Manaus, minha mãe sempre prepara pra mim. Lá é bem mais fácil comprar a fruta e aqui só em alguns mercados melhores e raras vezes eu encontro” lamenta.

 

De preparação rápida e com ingredientes que todos sempre têm em casa, com exceção do tucumã, é muito prático para quem precisa de energia e disposição para o dia. “Minha mãe costuma usar queijo fresco, aqui em São Paulo as poucas vezes que fiz, preferi o cottage, mas muita gente lá em Manaus prefere o coalho. Esse é único ingrediente que varia mesmo, o resto todo mundo usa igual, que é pão francês, margarina, banana e o tucumã” lembra Tallita dos ingredientes.

 

Ao perguntar sobre o modo de preparo ela explica de forma divertida que basta colocar tudo no pão, “É super fácil, basta cortar as bananas, eu costumo partir ao meio e refogar na margarina, eu gosto de passar um pouco no pão também, então você acrescenta o queije e o tucumã que fica melhor em raspas e por ultimo as bananas que refogou. Para virar o verdadeiro X-caboquinho, é só colocar na sanduicheira e espere o queijo derreter, e pronto é só comer”.

 

Tallita conta que se não fosse pela fruta, seria só mais um sanduiche, “eu gosto muito do sabor das frutas com o queijo e o pão, acho que é porque me faz recordar da infância. Além disso o tucumã que faz ficar tão gostoso, se não fosse por ele seria só um sanduiche de banana”, afirma.

Café da manhã típico do Amazonas feito com Tucumã

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