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“Se o baião é bom sozinho, que dirá baião de dois”

Amanda Gama

 

A frase que intitula esta reportagem vem da música “Baião de Dois” composta pelo cearense Humberto Teixeira, em parceria com Luiz Gonzaga, e, além se se referir a um estilo musical típico do Nordeste, tem a ver com um prato muito conhecido por lá. O nome “baião” deriva de uma dança e de um ritmo muito difundido por Luiz Gonzaga, que ficou conhecido nacionalmente como “o rei do baião”. O Baião de Dois é um prato completo, isto é, não precisa de acompanhamento, mas pode ser servido com paçoca de carne seca ou farofa de cuscuz. Para fazê-lo, deve-se cozinhar o arroz no caldo do feijão já cozido e temperado, misturando o feijão com o arroz na panela ainda no fogo e, depois de pronto, adicionar torresmo e queijo de coalho em cubos.

 

O Baião de Dois é um prático típico da Região Nordeste e é oriundo do Ceará. A receita consiste em um preparado de arroz e feijão, em que é usado, preferencialmente, o feijão de corda. Encontrar um nordestino que não aprecie o prato é quase tão difícil quanto decifrar suas origens. Há quem enxergue no prato uma certa influência dos imigrantes árabes, que teriam trocado a lentilha pelo feijão-verde. Outros atribuem a receita à escassez de recursos, situação típica do sertão. Na República Dominicana existe também um prato semelhante, chamado de moro, o qual também é preparado cozinhando o arroz e o feijão juntos.

 

Alguns dizem ainda que a história do Baião de Dois remonta aos tempos de grandes dificuldades do povo nordestino com as secas, quando a comida era escassa e nada podia se estragar ou desperdiçar. Assim, o cearense teria unido as sobras da cozinha, arroz e feijão com o pouco que tinha de carne seca e queijo de coalho, fazendo surgir o Baião de Dois. Com o tempo, as receitas foram sendo ampliadas e diversificadas, de modo que cada cearense tenha o seu jeito próprio de preparar o prato.

 

A empresária mineira Ângela Maria Alves Pereira, 55, visitou o Ceará há cerca de dois anos. Ela afirma que o que mais a marcou durante a viagem foi “a paisagem maravilhosa, incluindo as praias”. A respeito da culinária local, ela afirma que é completamente diferente da de Minas Gerais, que é mais forte e “bem temperada”. A turista teve a oportunidade de experimentar o famoso Baião de Dois e diz ter achado delicioso. “É uma alimentação completa. O tempero era típico e muito forte. A carne de sol dentro do Baião é muito gostosa. Recomendo com certeza”, afirma.

 

Ainda sobre as culinárias regionais e a interferência das mesmas na cultura brasileira,  Ângela observa que há muita diversidade. “Eu sou uma apreciadora de todos os tipos de culinárias. Confesso que acho tudo gostoso, e adoro experimentar coisas novas. A variedade é algo muito interessante, enriquece o local e, muitas vezes, atrai os turistas para a cidade, além de movimentar capital na região. As culinárias típicas são marcos de suas respectivas regiões, e acredito que nenhum viajante deve ir embora sem provar os pratos locais. A experiência sempre vale a pena! E com certeza as diferentes culinárias enriquecem a cultura brasileira, que é tão vasta devido a grande extensão territorial do país”, finaliza.

Sabores do mar:

o marcante tempero cearense

Karolline Goulart

 

O camarão é um dos frutos do mar mais consumidos em todo o país, está presente em receitas de Norte a Sul, mesmo em regiões não litorâneas e tem o Ceará como o maior produtor do Brasil, seguido pelo Rio Grande do Norte. Juntos, eles detêm 80% de toda a produção do país, de acordo com o IBGE.

A atividade é responsável pela renda de grande parte da população que vive no litoral e juntamente a outros frutos do mar, como o caranguejo e a lagosta, dá vida a pratos que encantam turistas do mundo todo. A gastronomia nordestina, em si, carrega influências da culinária índia, negra e portuguesa.  “Se existe uma palavra certa para definir a culinária cearense, essa palavra seria exótica”, afirma Gabriela Rodrigues, 28, de Fortaleza. “As principais características são os temperos fortes e marcantes, muitos pratos com frutos do mar e que valorizam o nosso sertão, como a buchada, a panelada e o sarrabulho”.

A cearense destaca que as comidas mais típicas são as que têm frutos do mar na composição, pois é uma região, em sua maioria, banhada pelo mar. Gabriela diz ainda que gosta muito de cozinhar. “O que eu gosto mesmo é do famoso camarão ao alho e óleo. Moro perto da praia, então eu compro direto dos pescadores, trago fresquinho e faço aqui. Coloco um baiãozinho, uma paçoquinha, batatinha frita ou macaxeira frita. Aqui é sucesso!”

O turismo é o grande responsável pela economia do estado. Segundo a Secretaria de Turismo do Ceará, passam por lá cerca de 3 milhões de turistas por ano e somente na alta estação de julho, são arrecadados cerca de 900 milhões de reais nesse segmento. Em seus 573 quilômetros de praias, há uma enorme diversidade de restaurantes especializados na culinária local, mas também é possível encontrar opções de comida mais sofisticada e os conhecidos fast foods.

Entre as comidas típicas mais procuradas, estão o baião de dois, o pirão, a peixada, a caranguejada e as várias formas de fazer o camarão. As sobremesas também têm um toque nordestino todo especial, como o caju em calda e o pudim de macaxeira. “Ao unir o maravilhoso sotaque, as belas paisagens e temperos que você dificilmente vai esquecer, é impossível não querer ficar lá.

 

O Ceará é símbolo aconchego e paz, acompanhados de um ‘ô amô’ ou ‘fique a vontade minha querida’ [jeito comum de se tratar as pessoas por lá], a gente se sente mesmo em casa”, comenta Emília Soares, 55, que passou as férias em Jericoacoara esse ano e pretende voltar em breve.

Para conhecer melhor alguns pratos em que os frutos do mar são o ingrediente principal, veja a seguir:

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