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Moqueca capixaba, sinônimo do Espírito Santo

Junio Kemil

 

Se você já visitou alguma praia do Espírito Santo certamente foi convidado a experimentar seu principal prato. Afinal, em 2010, a moqueca capixaba foi declarada oficialmente como Patrimônio Cultural Imaterial do estado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Nada mais justo para a iguaria que carrega o nome do Brasil por todo o mundo. A moqueca é uma espécie de “ensopado de peixe” e representa uma longa tradição pesqueira e carrega consigo, parte da cultura indígena e negra na forma de preparo há mais de 400 anos. E há quem venha de longe só para degustar o prato.

Dayane Gonçalves, 27, é mineira de Divinópolis e pelo menos uma vez por ano viaja até o Espírito Santo para ver o mar e, de quebra, comer os pratos típicos. A primeira vez que experimentou a moqueca, não quis saber de mais nenhum outro prato do menu. “A última vez que comi foi no ano passado. Foi quando eu e meu marido fomos para Vila Velha. Lá, entramos num restaurantezinho simples, à beira da praia, tão simples que eu nem me lembro do nome mais. Esse restaurante já exista lá há muitos anos, muito tradicional, é uma delícia, muito gostoso. Eles dão várias opções para o turista como acompanhamento: camarão, arroz branco, pirão, molho”.

A verdadeira moqueca capixaba deve ser preparada, obrigatoriamente, em panela de barro. Reza a lenda que com a vinda de imigrantes europeus para o Brasil, novos pratos foram acrescentados à cozinha espírito-santense, entre eles a moqueca. Mesmo com sua origem tupi, o prato foi se adaptando com o passar dos anos e sofreu algumas transformações: espanhóis e portugueses acrescentaram alho, cebola e coentro e os negros trouxeram o azeite-de-dendê.

A mineira Dayane não está sozinha. Segundo a Secretaria de Estado de Turismo (SETUR-ES), só no ano passado, 32% dos visitantes ao estado foram mineiros. A secretaria informa ainda que o gasto médio diário do turista ultrapassa os R$ 75,00. Boa parte dessa verba vai diretamente para o ramo alimentício. Os acompanhamentos da moqueca acabam saindo caro para o bolso dos turistas. O valor da porção para quatro pessoas pode chegar até R$ 270,00 se preparado com cação, um peixe da família dos tubarões. Já a moqueca preparada com badejo pode chegar a R$316,00.

É bom explicar que, ao contrário da moqueca baiana, a capixaba não recebe azeite de dendê e nem leite de coco. Muitos amantes do prato defendem que a versão capixaba é definitivamente melhor que a baiana usando como argumento a máxima do jornalista Cacau Monjardim, já enraizada na cultura litorânea: “moqueca, só capixaba; o resto é peixada”.

Um ponto muito visitado pelos turistas é o restaurante Cantinho do Curuca. Localizado na Praia do Meaípe, em Guarapari, o estabelecimento dá ao visitante a experiência de ver o preparo das receitas através das paredes de vidro da cozinha industrial de um lado e vista da praia do outro. Dayane explica o porquê do Curuca ser o seu restaurante favorito em Guarapari. “A cozinha é enorme e dá até pra ver aquele tanto de panela de barro pelo vidro, fora o cheiro irresistível”, afirma.

O restaurante é um dos 4758 estabelecimentos capixabas catalogados pela SETUR-ES e representa a força que culinária do estado possui. Em menos de 10 anos, a quantidade de estabelecimentos de alimentação praticamente dobrou: em 2006 eram apenas 2424.

Se por um lado, moqueca, etimologicamente, origina-se de uma expressão indígena — moquém, que significa grelha de varas para assar o peixe preferencialmente em folhas de bananeiras, como faziam os indígenas -, por outro, o nome moqueca designa também um estilo de preparar o alimento que consiste no cozimento sem água, apenas com os vegetais e frutos do mar. Os índios preparavam a iguaria com temperos nativos: tomates maduros, tinta de urucum, limão, cebola, coentro e pimenta. 

Hoje, a moqueca capixaba é preparada também com azeite doce e na panela de barro, agregando assim cinco características fundamentais: cor, sabor, perfume, consistência e, também, cultura, pois a panela é um dos produtos que representa o Espírito Santo.

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