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Culinária matogrossense:

sabor e histórias

Ariana Coimbra

Mariana Ferreira Leite (48) seria uma cozinheira igual a tantas outras do estado do Mato Grosso.  Seria, se não fosse o seu amor pela culinária. Seria, se hoje ela não cozinhasse apenas por prazer.

 

Com apenas seis anos, saiu do Pantanal mato-grossense e foi para Cuiabá ajudar sua mãe.  Trabalhou em casas de família e, aos sete anos, já aprendeu a cozinhar. Ainda que trabalhasse como adulta, ela era uma criança e como toda criança tinha suas curiosidades: entre suas lembranças, estão as perguntas que fazia à mãe sobre os temperos e pratos da região.

 

Por volta dos seus 12 anos, quando faltava cozinheira na casa onde trabalhava, ela assumia o formo e o fogão. Nessa época, já sentia um prazer imenso em cozinhar. Ficou nessa casa até completar o Ensino Fundamental. Mais tarde, resolveu trilhar outros caminhos e fez alguns cursos de aperfeiçoamento, porque a culinária sempre a encantou.

 

Hoje, Mariana é pedagoga e guia turística, mas precisou batalhar muito para alcançar seu sonho de ser professora. “Quando me faltava dinheiro, eu cozinhava aos fins de semana para pagar meu curso de Pedagogia”, contou, alegre com suas lembranças. “A nossa comida é maravilhosa, eu sou apaixonada!”, completou.

 

A cozinha mato-grossense tem influência da culinária portuguesa, africana, italiana, e conserva pratos típicos de outras regiões também. De acordo com Mariana, o prato mais famoso é chamado “Maria Isabel”, que é carne seca com arroz. A versão mais conhecida para o prato diz que esse nome foi dado em homenagem aos escravos.  A feijoada de osso de corredor - que é o osso da canela do boi, entre o mocotó e a  articulação -, é um prato que os escravos faziam muito, porque essa parte do boi era descartada pelos senhores.

 

Já o peixe Pacu existe no rio Cuiabá e é feito assado: ele é embrulhado na folha de bananeira e colocado sob a brasa. Paçoca no Mato Grosso é um prato salgado, feito com carne seca socada no pilão, misturada com folhas verdes e pimenta. Há também Costela com Banana Verde. Quem visitar o estado tem todas essas delícias que fazem parte não só da história do estado, mas também de várias pessoas, assim como a de dona Mariana.

 

Encontro

Dos dias 12 a 15 de outubro,  Mariana participou de um encontro de cozinheiros de baixa visão na cidade de Belo Horizonte. É um encontro que acontece anualmente e cada participante deve levar um prato típico de sua região. “Fiz um pote de dois quilos de paçoca e todo mundo levou paçoca para casa, levaram para Rio de Janeiro, Bahia, São Paulo, Espírito Santo e Natal, e eu fiquei muito feliz”, comenta. Mesmo com as dificuldades enfrentadas pela baixa visão – 5% do olho esquerdo e 1% do olho direito -, Mariana nunca deixou de fazer aquilo que mais gosta. “A perda da visão não  me diminui, ao contrário, eleva. Paçoca eu consigo fazer, cozinhar no geral, e isso é prazeroso”, afirma. Ela ainda acrescenta que, além dessa troca de comidas típicas, os participantes tiveram várias palestras e fizeram passeios pelas cidades históricas de Minas Gerais, encontros de culturas, saberes e sabores.

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