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Tacacá: sopa, caldo ou bebida? Que prato é esse?

Cristiellen Sousa

 

A diversidade de alimentos e os inúmeros métodos de preparo determinam a variedade de pratos tradicionalmente consumidos nas regiões do país. Rica e com sabor único, a culinária paraense possui temperos e ingredientes bastante característicos. Os costumes alimentares, derivados de colonizadores e indígenas que viveram no local, fazem com que a gastronomia seja vista de forma um tanto peculiar. Já os ingredientes, provenientes da Amazônia, como a mandioca e seus derivados, estão presentes em diversos pratos típicos, entre os quais destacam-se o pato no tucupi, o vatapá, a maniçoba e o famoso tacacá.

 

Considerada uma iguaria culinária, o tacacá conta com os seguintes ingredientes em seu preparo: goma de mandioca, tucupi, camarão e jambu. Embora seja reconhecido como um alimento ameríndio, sendo sua denominação advinda da língua tupi, ainda hoje não se sabe precisamente sua origem. A partir de relatos das chamadas "tacacazeiras" (mulheres que dominam a arte de fazer o tacacá), ele realmente teria sido inventado pelos índios e, ao longo dos anos, aperfeiçoado por elas. Hoje, muitas pessoas conseguem reproduzir esse prato a partir dos ensinamentos passados pelas tacacazeiras. Em Belém do Pará, suas barracas, quiosques e carrinhos espalhados pelas ruas integram a paisagem urbana e acompanham o desenvolvimento histórico e econômico da cidade.

 

Dessa forma, além de ser feito em casa, o tacacá também é uma comida de rua, comumente consumido nos fins de tarde. Para alguns, ele se tornou uma área interessante de investimento e, na maioria das vezes, o gosto por prepará-lo foi influenciado pelos próprios familiares. "Trabalhamos há 20 anos com comidas típicas e decidimos abrir uma empresa familiar, tendo como prato principal o tacacá. Tudo que aprendi foi vendo a minha mãe fazer, já são quase 50 anos que ela trabalha nesse ramo. Tudo que sei devo a ela", contou Cristóvão do Nascimento, mais conhecido como "Renato do Tacacá".

 

O preparo envolve técnicas complexas e dependendo da maneira como é feito pode alterar o sabor final. Sendo assim, verificar a qualidade dos produtos utilizados é algo essencial para se obter o resultado esperado. Além disso, a receita tradicional pode sofrer adaptações: no lugar do camarão, por exemplo, muitos utilizam peixe, assim como outras variedades de ervas e temperos. O certo é que cada pessoa terá uma experiência única ao provar o tacacá. "Na primeira vez eu não gostei muito por causa da goma, achei a textura estranha. Hoje já gosto, principalmente por causa do jambu, aquela folha que faz tremer a língua, e do camarão. Mas ainda tomo sem a goma", disse o paraense Anderson Ayres.

 

Em 2016, uma pesquisa realizada pelo Ministério do Turismo revelou Belém do Pará como o destino brasileiro mais bem avaliado pelos turistas estrangeiros. A gastronomia do país recebeu nota máxima de 95,4% e Belém ganhou destaque na lista, com percentual de 99,2% de aprovação. De acordo com Renato, os turistas realmente gostam da culinária paraense e na maioria das vezes aprovam o tacacá. "As pessoas que vêm aqui costumam conhecer nossas iguarias, isso já faz parte da nossa cultura. 90% dos clientes que experimentam pela primeira vez falam sobre o sabor único desse prato e muitos o consideram uma comida forte”, ressaltou.

 

Mas não é preciso ser de outro estado ou de outro lugar do mundo para reconhecer o potencial da gastronomia paraense. Anderson morou por alguns anos em Minas Gerais e, segundo ele, no início foi difícil se acostumar com a culinária mineira. "Quando me mudei pra BH senti bastante diferença. No começo não comia quase nada. Acho a comida mineira mais temperada. Já os pratos de Belém do Pará têm um sabor muito atípico, não sei como explicar. Só provando para ver!".

 

Nos últimos anos, a gastronomia paraense tem despertado a curiosidade de pessoas do mundo todo. O tacacá, por exemplo, hoje é reconhecido internacionalmente e considerado como patrimônio imaterial, assim como o ofício das tatacazeiras. Além disso, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) também avaliou o modo de produção das cuias negras (utensílio tipicamente usado para servir o tacacá) como patrimônio cultural brasileiro. Todos esses aspectos evidenciam a importância não apenas da culinária da região, mas a forma como a mesma se mistura e passa a simbolizar a cultura, memória e identidade de um povo.

 

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