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Parece mas não é: “bolo de rolo” não é rocambole

Ele é, muitas vezes, confundido com outros “doces enrolados”, mas o doce pernambucano tem suas particularidades   

Jhonatan da Silva Tavares

 

 Pernambuco, o primeiro polo econômico do Brasil, se destacou na extração de pau-brasil e foi pioneiro na cultura canavieira que, lá, desenvolveu-se efetivamente. Terra do frevo, do maracatu e do baião de Luiz Gonzaga, o “Leão do Norte” se destaca também na culinária sendo, de acordo com o Guia Quatro Rodas, o maior estado em números de restaurantes “estrelados” no Nordeste e o quarto do Brasil, atrás apenas de São Paulo, Rio de Janeiro e Minhas Gerais. Além disso, a cidade de Recife ocupa o posto de terceiro maior polo gastronômico do país segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (ABRASEL), com cerca de 10 mil estabelecimentos, atrás apenas da cidade do Rio de Janeiro e de São Paulo.

 

A culinária de Pernambuco foi diretamente influenciada pelas culturas europeia africana e indígena. Diversas receitas provenientes de outros países foram adaptadas com ingredientes encontrados com facilidade na região, resultando em combinações únicas de sabores, cores e aromas. Entre as principais iguarias da culinária pernambucana destacam-se, na doçaria, o famoso “bolo de rolo” que é, pela Lei Estadual 13.436 de 2008, reconhecido como patrimônio imaterial de Pernambuco.

 

A origem do bolo de rolo está na adaptação do bolo português "colchão de noiva", uma espécie de pão de ló enrolado com recheio de nozes. Ao chegarem aqui, os portugueses passaram a trocar o recheio pela goiaba, fruta abundante no Brasil especialmente na região pernambucana, sempre dosada com muito açúcar dos engenhos da região. Até hoje é comum polvilhar o bolo de rolo com açúcar em sua camada externa, finalizando a apresentação da sobremesa.

De acordo com Janecleide Sobrinho, empresária pernambucana do ramo de doces, o bolo de rolo do Pernambuco é típico, sendo a massa composta de trigo, ovo, margarina e açúcar, além do recheio com doce de goiabada. Após ser produzida, ela é enrolada com uma camada de goiabada derretida, dando a aparência de um rocambole, embora tenha diferenças em vários detalhes, especialmente, no preparo, com as camadas de massa e goiabada bem mais finas e com sabor característico.

 

O bolo de rolo faz sucesso assim como ressalta Janecleide. “O bolo de rolo é campeão de vendas pois, ele atua em vários tipos de festa e refeições diárias”, explica. Diante da popularidade do bolo, novos sabores foram criados. Hoje, o doce pode ser encontrado com massa de chocolate e com recheios variados: doce de leite, chocolate derretido, creme de morango, creme de ameixa e chocolate branco.

 

Janecleide ainda aponta o mercado de doces pernambucano como alternativa frente à crise econômica e ao desemprego. “Meu irmão tinha trabalhado em uma empresa de bolo de rolo e com sua demissão, ele começou fazê-lo para sobreviver. Todos nós tínhamos trabalhos diferentes, cada um em sua profissão, mas houve um tempo que estávamos todos sem emprego. Daí, arrumamos um espaço, compramos todos os materiais e começamos a oferecer o produto nas proximidades da nossa residência e fomos ganhando espaço no mercado, ficando cada dia mais fortes”, conclui Janecleide.

 

“Coração do Brasil em teu seio” “o primeiro talvez no porvir” como assim está no hino de Pernambuco, ou então, o “Leão do Norte”, conforme a alcunha utilizada na canção de mesmo nome do cantor e compositor Lenine, pode, hoje gabar-se por oferecer  produtos de qualidade como o bolo de rolo que movimentam a sua economia . Logo, a culinária pernambucana é motivo de orgulho ao ocupar hoje um espaço de referência gastronômica no país.

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