A rosquinha mais famosa do Rio
Com ingredientes simples, o biscoito Globo conquistou as praias cariocas
João Luiz Reis
O Brasil é famoso por seus sabores e temperos. Cada lugar tem sua culinária característica e ingredientes próprios, e o Rio de Janeiro é o estado conhecido por suas praias, carnaval, pontos turísticos e, claro, seus pratos típicos.
Entretanto, um dos alimentos mais consumidos não tem nenhum segredo em sua receita, mas faz grande sucesso entre os frequentadores das praias cariocas. O biscoito Globo, um dos produtos alimentícios campeão de vendas faz a alegria dos banhistas e tem uma composição bastante simples: água, leite, óleo e polvilho.
O biscoito é tão apreciado na cidade maravilhosa que foi publicado, em 2012, o Decreto Municipal 35.179, tornando-o Patrimônio Cultural Carioca. Ele é vendido nas praias desde os anos 1950 e conquistou o posto de “comida de praia”, indispensável para os banhistas.
Qual a origem do biscoito?
A popularidade do biscoito e seu consumo são tão grandes que existe um livro sobre sua história. A obra “Ó, o Globo”, escrita por Ana Beatraiz Manier e publicada no início de 2017, descreve como foi a criação e a receita do biscoito. E para surpresa de todos, a origem dele não é carioca mas, sim, paulista. A escritora conta que, “em 1953, os irmãos Milton, Jaime e João Ponce, em razão da separação dos pais, saíram de Franca, São Paulo, para irem morar com um primo que tinha uma padaria no bairro Ipiranga, na capital paulistana. Lá, Milton Ponce descobriu a roda, ou melhor, a famosa rosquinha, que aprendeu a fazer e a vender nas ruas”.
De acordo com a escritora, “dois anos depois, em 1955, Milton Ponce e os irmãos foram para o Rio, para vender biscoitos no 36º Congresso Eucarístico Internacional. Foi batizado com o nome Globo, homônimo à padaria para a qual foram contratados para trabalhar”. O sucesso foi tanto que abriram uma fábrica, em Botafogo, e nunca mais deixaram a capital fluminense.
Unanimidade entre os consumidores?
Além do livro com a história do biscoito, o produto, como não poderia ser diferente hoje, migrou também para as redes sociais e faz sucesso. Ao pesquisar sobre ele, percebe-se que há uma espécie de adoração pela “especiaria” em forma de rosquinha. O slogan - “o biscoito que você não para de comer” - é famoso estre os banhistas. Em 2015, o produto somente era comercializado nas praias, mas uma rede de supermercados decidiu vendê-lo em seus estabelecimentos. Ele também é encontrado nos estádios, em dias de jogos de futebol, e nas ruas de alguns bairros. Hoje em dia, o biscoito também pode ser enviado pelos Correios aos interessados em provar seu sabor, mas que moram fora do Rio.
A simplicidade da receita e o preço acessível podem ser consideradas as razões do sucesso. Mas, apesar de agradar aos cariocas, o sabor foi questionado por um dos maiores jornais do mundo, o “New York Times”. Em meados de 2016, ele publicou um crítica dizendo que o biscoito era “sem gosto, assim como a culinária carioca”. Milton Ponce, um dos três sócios-fundadores da marca, atendeu o crítico na fábrica e ficou decepcionado com a avaliação. Em resposta à crítica, os internautas invadiram as redes sociais refutando a avalição do jornal e enaltecendo o sabor do produto e sua ligação com o Rio de Janeiro. Mesmo assim, David Segal, autor do texto polêmico, em postagem reafirmou sua posição: “mantenho o que escrevi”.
Em maio deste ano, Milton Ponce Fernandes morreu aos 78 anos, porém, sua invenção já entrou para história como uma das maiores delícias consumidas nas praias. Para entender sua grandiosidade, ir ao Rio e não comer o biscoito Globo é como ir ao Sul e não comer um churrasco, a São Paulo e não comer uma pizza, a Minas e não comer um pão de queijo. A receita é simples e pública, mas se deliciar com o biscoito Globo nas praias cariocas, não tem comparação.