Desbravando o Norte do País:
a cultura gastronômica do Tocantins
O Norte reúne a cultura dos vários imigrantes que se proporam a explorar a parte mais remota do país
Emanuela Souza
O Brasil é conhecido por sua miscigenação e diversidade. A mistura de imigrantes, índios e escravos, tornou o país o que ele é hoje. Cada região absorveu a cultura da população que a habitava, e agora podemos nos deparar com uma infinidade de costumes. Como todo bom país hospitaleiro, a comida é um dos principais atrativos, pois os elementos de cada prato são únicos e muitas vezes vem de receitas que passam de geração em geração. Porém, ainda somos um país em que há muito a desbravar. É necessário pensar fora da caixa e abrir a aceitar de braços abertos a cultura presente nas diversas regiões do país.
Ainda pouco desbravada, a região norte do país guarda tradições milenares, e histórias que são passadas de geração para geração. Berço da floresta Amazônica, ainda é um território desconhecido para a maioria dos brasileiros. Conhecido por seus rios de águas limpas e parques ecológicos, que são os maiores pontos turísticos do estado, o Tocantins agrega uma culinária baseada em pescados e frutas.
Árvores curvadas, com cascas grossas, e vegetação adaptada para o calor da região, abrigam frutos como pequi e buriti, que servem de matéria prima para doces e sucos típicos no estado, além da bacaba uma palmeira nativa da Amazônia, que gera um fruto semelhante ao açaí. Sua poupa é usada para a produção do vinho de bacaba, e um suco grosso que pode ser servido gelado com açúcar, farinha de tapioca ou farinha-d'água. A agricultura familiar é bem recorrente, fazendo os pilares da culinária de alimentos orgânicos.
A gastronomia tocantinense recebe grande influência dos estados que o rodeiam. De Minas Gerais, Goiás, e também da cultura indígena, o sabor forte vem das iguarias que presentes nos pratos mais populares, sendo elas, coentro, colorau e pimenta do reino. Sendo um estado que abrange os rios Araguaia e Tocantins, o destaque dos pratos vai para os pescados. De peixe no leite a peixe na folha de bananeira, as receitas rodam o país, e muitas vezes a população sequer imagina sua origem. Porém, a estrela das mesas tocantinenses é o famoso Chambari. Originalmente um prato italiano, o Chambari ganhou uma adaptação no estado. O preparo do prato consiste no cozimento de músculo bovino com o osso e temperado com alho, sal, pimenta do reino, coentro, colorau e salsinha. É servido acompanhado de arroz branco e cheiro verde, em algumas regiões do estado é adicionada mandioca ao caldo para engrossar.
Atualmente, o Festival Gastronômico de Taquaruçu vem ganhado força e popularidade na região norte. Com foco na valorização dos ingredientes regionais, também há um incentivo aos cozinheiros locais para soltarem a imaginação em seus pratos. As iguarias oferecidas no festival, unidas ao artesanato e à música popular local, são um grande atrativo para turistas que buscam novas experiências.
A cultura gastronômica do Tocantins está ganhando cada vez mais visibilidade. Realizado em agosto deste ano, o Fórum Turistic Brasil, um evento trazido da Espanha, reuniu chefs de todas as regiões do país. Reunindo quitandas e pratos de todo o Brasil, o que caiu na graça do público foi a paçoca de carne de sol, da chef Ruth Almeida, dona do restaurante Raízes Gastronômicas em Palmas.
Assim como qualquer costume, a culinária também é essencial para a preservação de culturas e tradições. Para o estudante Bruno Nogueira, de 17 anos, morador de Miracema no interior do Tocantins, essas práticas precisam ser preservadas e passadas para as gerações posteriores, pois é nelas que se manterá viva a cultura do estado. “É importante manter a cultura do nosso estado através da culinária, é a nossa representatividade que é exposta por meio dela”, afirma. Algumas práticas vão se desfazendo ao longo do tempo, principalmente em estados onde a cultura é isolada do restante do país pela mídia. “É necessário ensinar às futuras gerações, a forma que seus parentes cozinhavam, passar essas tradições de pai para filhos” completa Bruno.
O Brasil é um país vasto, cheio de culturas, costumes e tradições, muitos desses ainda desconhecidos por grande parte da população. Sem a devida valorização, essas práticas podem se perder no tempo, sem receberem o devido reconhecimento. A região norte do país, abriga a natureza viva, paraísos ecológicos, com habitantes que souberam aproveitar a riqueza natural que lhe foi oferecida. Uma cultura viva na gastronomia deve ser exaltada não apenas pela população do estado, mas também por todo o território nacional.