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Bahia mantém tradição de grandes autores literários

Poliany Mota

Com uma população de mais de 14 milhões, conforme dados do último censo do IBGE, a Bahia, além de ser berço do Brasil, também é de grandes autores da literatura brasileira, como Castro Alves, Jorge Amado e Gregório de Matos. Além desses autores clássicos, outros escritores do estado tem se destacado, como Adelice Souza. A escritora de 41 anos já lançou sete livros e chegou a ser indicada ao Prêmio Jabuti, o mais tradicional prêmio do livro no Brasil, com uma de suas obras. 

 

 

 

 

 

 

Adelice se divide entre o teatro e a literatura. Além de ser formada em comunicação e direção teatral pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), é doutora em Artes Cênicas. Seu primeiro livro surgiu a partir de um conto, que falava sobre o parto de sua mãe. Segundo ela, após um amigo, um médico obstetra, ler e se emocionar, decidiu escrever outros “para ver se tinha jeito para a coisa”. “Venho do teatro, da objetividade da cena e desejava realizar um trabalho mais subjetivo. Comecei a escrever os contos para falar da primeira sensação que o meu corpo teve ao ser tocado no momento do parto da minha mãe. Nasceu Dona Lia, um conto que gosto muito. Está no meu primeiro livro. Talvez seja o meu melhor conto”, relatou.

 

A baiana já dirigiu nove peças de teatro e como dramaturga escreveu cinco textos para teatro. Entretanto, ela diz que agora quer dar mais atenção ao seu lado escritora. “Quando estou dirigindo ou pesquisando teatro não dá tempo para escrever. É uma boa divisão, mas sinto que agora quero me dedicar mais exclusivamente à literatura e dramaturgia e menos à direção cênica”. 

 

Destaques

 

O primeiro livro, As camas e os cães, de contos, foi lançado em 2001. “Foi fruto de um prêmio que na época chamava-se Premio Copene de Literatura, e depois passou a chamar-se Premio Braskem de Literatura e que, infelizmente, já não existe mais”. O segundo livro, Caramujos zumbis, também de contos, foi lançado em 2003. “Também foi fruto de um prêmio, do Banco Capital, que também não existe mais. Tive sorte com os prêmios”.

 

Em 2013 Adelice foi indicada ao Jabuti com o romance O homem que sabia a hora de morrer, que recebeu uma bolsa da Funarte (Fundação nacional de Artes) de Criação Literária e depois venceu um edital de publicação pela Fundação Pedro Calmon. Apesar de ter sido escrito em 2006, O homem que sabia a hora de morrer  só foi publicado seis anos depois, em 2012. “É preciso aprender o andar lento que os meandros da literatura às vezes impõe e não ter pressa. Estou escrevendo um romance e penso que ele será lido lá em 2018, se tiver sorte. Mas gosto deste tempo lento da literatura. Depois  de O homem que sabia a hora de morrer veio uma peça de teatro publicada, Kali, a senhora da dança. Agora estou muito feliz em entrar na literatura infantil com Adestradora de Galinhas”, comentou Adelice.

 

Adestradora de Galinhas é o primeiro livro infantil da autora. A obra foi lançada no dia 10 de outubro, por meio de um projeto da Secretaria da Educação da Bahia, que fez um edital de publicações de livros infantis. Foram 19 livros vencedores, entre eles, Adestradora de Galinhas. “Logo, logo, o livro chegará na mão de 40 mil estudantes de rede pública de ensino. Isso é uma alegria. Mas são movimentos isolados, é preciso mais que isso para o livro entrar na vida da criança que está aprendendo a ler”. 

 

Novas publicações

 

Adelice diz que a escrita para crianças chegou com uma força intensa. O segundo livro será editado ainda este ano e o terceiro no início de 2016. “Já tenho cinco ou seis livros prontos. Todas as circunstâncias que cercam estes livrinhos são muito mágicas e divinas. São de ordem íntima de felicidade e de ordem pública, quando pensamos que o aprendizado de leitura no Brasil, nos índices do MEC [Ministério da Educação], são bem desanimadores. Quero falar de amor com as crianças. De respeito aos seres vivos, à natureza de fora e de dentro. Quero que as crianças aprendam a ler coisas mais bonitas do que aquelas que estão nos jornais. A literatura precisa ser uma grande produtora de poesia, para animar a vida, contou. 

 

De acordo com dados do IBGE de 2010, 1.028.497 baianos de sete a 60 anos nunca tinham frequentado uma escola. “É importante que o governo e as instituições privadas ajudem os autores a escrever e divulgar os seus livros, pois precisamos lutar contra os assustadores índices de precariedade na nossa educação. Esta questão do apoio é muito delicada, porque tem muita gente escrevendo coisas boas e sem entrada nas grandes editoras, porque não dá para editar tanta coisa boa que há. O apoio do governo e as das instituições privadas é muito importante para fazer a cultura da literatura acontecer”, ressaltou Adelice. 

Nossos autores baianos são lindos, dos mortos aos vivos, dos novos aos velhos. Muita beleza sendo produzida por aqui por Ruy Espinheira Filho, Myriam Fraga, Carlos Ribeiro, Victor Mascarenhas, Karina Rabinovitz, tantos, tantos...

A trajetória começa a cada dia. A cada livro novo. Agora também escrevo um romance e tudo é início, eterno início. Sim, creio que muito do que escrevo fala sobre o mistério da morte, com sua inatingibilidade e beleza. Adestradora de galinhas fala da morte sendo vista com amor. O desaparecer que não desaparece porque há amor. Nisso, os dois livros se encontram. No final de O homem que sabia a hora de morrer, a narradora conta que o personagem principal, seu avô, na hora de morrer não teve dor, porque até sua morte era amor. (Adelice Souza)

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